Na última quinta-feira (23), a ABTG (Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica) e a APS Marketing de Eventos realizaram, em São Paulo, a segunda edição do Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica. Com o tema “A Embalagem do Futuro”, o evento levou aos participantes debates sobre os rumos e tendências globais para o segmento de Embalagem.
A abertura do Congresso ficou a cargo de Bruno Cialone, presidente do Conselho Diretivo da ABTG, e de Francisco Veloso Filho, presidente da Diretoria Executiva da Associação. Veloso Filho, inclusive, ressaltou o papel de OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), reconhecido pelo Ministério da Justiça, que permite que “nossos pareceres sejam acolhidos em todas as esferas do poder público”.
A primeira palestra, “Embalagens do Século 21 – Tendências do Futuro”, foi ministrada por Renato Wakimoto, da Albéa Group. O profissional citou as principais tendências mundiais para o segmento, usando, como exemplo, a indústria cosmética.
Wakimoto listou nove pontos a serem observados pelas empresas, como a volta dos produtos premium, o surgimento de pequenas marcas que obtém rápido crescimento, a velocidade dos lançamentos, o fim da fidelidade, o atendimento de necessidades específicas de públicos específicos, a introdução de ingredientes naturais às fórmulas, preocupação com sustentabilidade e cadeia produtiva, e a grande influência digital na aquisição de itens (“dicas” de blogueiros, youtubers, e-commerce).
Na palestra seguinte, Phillip Fries, da Heidelberg, discorreu sobre a “Indústria 4.0 – Novos Recursos na Produção de Embalagens”. Uma das grandes mudanças trazidas pela Indústria 4.0 é o de uma produção autônoma, com pouca participação humana nos processos.
Fries explicou aos presentes que a Indústria 4.0 faz parte da quarta Revolução Industrial, baseada no uso de sistemas “ciberfísicos” – robôs e inteligência artificial. “A informação entra no sistema de produção e retorna para que possamos saber onde podemos melhorar”, destacou. “Não é só maquinário. É a utilização de sistemas inteligentes para fazer a fábrica funcionar e detectar erros e melhorias a serem introduzidas ao processo.”
Segundo o especialista, as vantagens e benefícios trazidos pela Indústria 4.0, além da autonomia, são a redução de custos e erros, a busca da excelência operacional, integração dos processos produtivos, economia de energia, fim do desperdício, transparência nos negócios, aumento de segurança e da qualidade de vida.
O professor Gil Anderi da Silva falou sobre “Embalagem e Meio Ambiente – Um Compromisso”. O acadêmico explicou o conceito de sustentabilidade como “condição do planeta Terra que permite a manutenção da vida humana pelas gerações futuras” e deu um panorama da evolução do mundo, desde a vida primitiva (“a terra não tinha dono”), passando pela sociedade agrícola (“surgiu o dono da terra”) até chegar à sociedade industrial (“crescimento desequilibrado da população e produção exacerbada de bens de consumo”).
“A nossa sobrevivência no planeta depende desse punhado de solo. Se abusarmos dele, ele entrará em colapso”, disse Silva. Para ele, o grande desafio da indústria, independente do segmento, será o de consumir recursos naturais sem correr o risco de esgotá-los. “Acabou a era da abundância; estamos na era da escassez”.
Aleks Zlatic, da EFI, apresentou sua visão sobre “Inovações Tecnológicas em Embalagens”. O profissional enfatizou dados que mostram o crescimento da indústria de embalagens, em especial nos mercados emergentes – Colômbia, México e Brasil. O plástico rígido e o papelão ondulado representam as principais fatias do mercado. “A demanda por embalagem cresce 5% por ano”, declarou Zlatic.
Ainda sobre o segmento, apresentou-se os Direcionadores do Mercado Consumidor, tais como: o aparecimento de novos consumidores (explosão populacional), mudança demográfica (jovens motivados por valores diferentes da geração anterior), a procura por embalagens mais sustentáveis (going green) e a ascensão do comércio eletrônico.
Sobre a guerra ao plástico, Zlatic enfatizou que é possível escolher a quantidade de insumo a ser inserido em suas embalagens e que as empresas precisam informar aos consumidores que o material é reciclável, da mesma forma que fazem com o papel. “73% do papel ondulado é ‘recuperável’ no Brasil. Por que não fazer o mesmo com o plástico?”, indagou.
Felipe Toledo ministrou a palestra “Impressão Digital em Embalagem – Um Modelo de Negócios”, destacando que a introdução deste tipo de impressão tem como objetivo pensar fora do comum e levar uma mudança de comportamento ao mercado.
As principais vantagens da impressão digital – que, como mostrou Toledo, ainda representa uma fatia pequena do mercado de impressão no mundo (16% em 2017, com projeção de 20% em 2022) -, são a redução de custos e riscos, a personalização dos itens, a capacidade de se realizar testes e regionalização dos produtos, tratamento de cor é muito mais simples e aumento das vendas.
Na sequência, Rafael Godinho Aranjues, da Epson, falou sobre a “Transformação Digital do Mercado de Etiquetas e Rótulos”. “O digital complementa o analógico. Não vejo, a médio prazo, uma substituição de tecnologias. Por exemplo, o micro-ondas não substituiu o fogão”, disse.
Aranjues também bateu na tecla da possibilidade de maior segmentação das impressões digitais, o que leva a diferenciação, customização massiva (uma oferta ide al para cada cliente), edições limitadas, personalização de rótulos (como garrafas com nomes), otimização de custos (menos estoques, menos desperdícios), menor tempo de resposta (tudo é urgente) e a capacidade de se adequar a mudanças de normas e padrões mais rapidamente.
A penúltima palestra, “Embalagem como Ferramenta Estratégica de Marketing”, foi ministrada por Aislan Baer. Segundo Baer, “a embalagem está crescendo por causa da mudança da indústria da comunicação” e continua sendo a melhor opção para divulgar um produto e uma marca (“é o único canal de comunicação viável”).
As funções da embalagem são a de conter, proteger, identificar, comunicar, vender e embelezar um produto. Porém, a “embalagem do futuro” agrega mais, fazendo com que a experiência da compra se torne mais rica e completa. Além do básico, embalar necessita melhorar o que vem dentro (active packaging), comunicar ativamente – uso de QR Code – (responsive packaging), capturar o que a marca ainda não percebeu ao colocar o item na gôndola – geladeiras inteligentes que identificam consumo diário – (interactive packaging) e indicar a melhor forma de se armazenar o item – temperatura ideal, por exemplo – (smart packaging).
Encerrando o Congresso, Marcos Cardinale abordou a “Revolução Digital no Mercado de Embalagens”, que permite lidar com mais trabalhos por dia, reduzindo erros e custos e gerando mais lucro.
Segundo o profissional da Esko, “55% dos produtos que vão para a gôndola ficam mais de seis meses nas prateleiras, enquanto novos produtos surgem para substituí-los. Isto gera mais desperdício, mais custos e menos lucro, trazendo ineficiência para a empresa e para o cliente”. Os desafios, então, estão em encontrar maneiras de se produzir mais no mesmo tempo e ter qualidade e consistência na impressão.
A ABTG já divulgou a data do próximo Congresso Internacional de Tecnologia Gráfica: 22 de agosto de 2019. O tema será escolhido pelos participantes desta edição. As sugestões variam entre “Impressão Digital”, “Segmento Editorial” e “Gestão de Tecnologia”.
O SINGRAFS foi um dos apoiadores institucionais do evento.
Fotos: Paula Franco.