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O empresário gráfico Ronaldo Isola, da Cartex Artes Gráficas, sentiu na pele a urgência com que o coronavírus trata suas vítimas. Eram 15h22, do dia 28 de março, quando ele foi informado que seu irmão, Roberto, havia falecido, vítima da COVID-19. Mais: ele teria irrisórios 38 minutos para se deslocar até o cemitério de Vila Assunção, em Santo André, se quisesse acompanhar o enterro.

Ronaldo ligou para a mãe, dona Julieta, de 90 anos, e deu a notícia do falecimento. Correu em direção ao cemitério, mas não conseguiu se despedir pela última vez do irmão. O corpo de Roberto, que era representante comercial, estava dentro de um caixão lacrado. Apenas oito pessoas participavam do enterro.

robertojulietaronaldoRoberto, dona Julieta e Ronaldo

“Isso foi muito doloroso, porque meu irmão era uma pessoa comunicativa, que se dava bem com todo mundo. Quando eu ia nos lugares que ele frequentava, o pessoal me chamava de ‘irmão do Roberto’. Então, somente oito pessoas no dia do enterro... Isso dói demais.”   

Nem mesmo a esposa de Roberto pôde comparecer, porque estava reclusa, em casa, de quarentena.

julietaerobertoisolaRoberto e a mãe na festa de aniversário que celebrou os 63 anos dele e os 90 de dona Julieta

Ronaldo é casado com uma médica intensivista pediátrica. Abalado com a rapidez da morte do irmão e da forma como os fatos haviam se desenrolado, o empresário teve a ideia de criar uma máscara protetora, para ser utilizada pelos profissionais de saúde.

“Fiz um protótipo. Mostrei para a minha mulher. Ela enviou para um grupo de WhatsApp de médicos. Eles fizeram sugestões. Até que a máscara foi finalizada.”

Conhecida como face shield, ela é feita de material transparente cristal, com suporte de PS (poliestireno). Um pouco semelhante à máscara de um soldador, cobre todo o rosto. É presa na testa do profissional e alonga-se até um pouco abaixo do queixo. Pode ser sobreposta à máscara de pano. 

Face Shield Mascara Cartex 5 300x300 divulgacaoMáscaras de proteção facial projetadas e produzidas pela Cartex (Imagem: Divulgação)

“Na gráfica, quando falei para os funcionários o que nós iríamos fazer, eles ficaram emocionados. Eles entenderam que aquelas máscaras seriam utilizadas pelos nossos novos heróis, desses tempos de coronavírus.”

A ideia do dono da Cartex era fazer mil peças e distribuir gratuitamente para médicos, enfermeiros e agentes de saúde do Grande ABC.

“Apareceu uma prima e quis ajudar, fazendo uma doação. Depois, vieram outros doadores. Muita gente ajudou. Acabei produzindo seis mil máscaras, que foram distribuídas para o Grande ABC e várias cidades do interior de São Paulo (Araçatuba, Votuporanga, Botucatu, Campinas), Baixada Santista e até na capital.” A entrega das face shields está sendo relatada e compartilhada pelas redes sociais da empresa.

O drama particular da família Isola virou notícia nos meios de comunicação. O portal G1 relatou o caso e mencionou a doação das máscaras de proteção. A história também foi contada pelo SINGRAFS e outras publicações da região. 

A gráfica Cartex está há 24 anos no mercado e trabalha, basicamente, com material promocional. Encerradas as doações, Ronaldo diz que pode produzir e revender as máscaras, caso haja interesse de alguma unidade médica. 

“Mas vamos cobrar um preço abaixo do mercado, porque não é nossa intenção lucrar com essa tragédia, com esse momento trágico, que estamos vivendo.”